Educação midiática: dos brain rots italianos aos deep fake de I.A, a arma política que eles não querem que você saiba

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Não ser cronicamente online pode lhe custar, e muito, nas eleições presidenciais de 2026…

Recentemente, me deparei com o sentimento de angústia que os millennials (1981- 1996) compartilham ao não entenderem um meme, foi como a sensação relatada no filme “Divertida Mente” ao desbloquear uma nova emoção, no meu caso, o “Tiozão”.

Aconteceu pelo menos três vezes essa semana, os culpados? Meus alunos.

Primeiro, começou com um “Teacher, você já viu o meme do coelho com o relógio?”, que logo foi rebatido com um “Sim” arrastado, somado de uma risada, — forçada para parecer espontânea — afinal, memes são engraçados, certo? Eu deveria sorrir para deixar claro que eu, apesar de ser da geração Z (1997 – 2010), tal qual uma nativa digital, sabia do que se tratava.

O meme do coelho com o relógio, ou mais conhecido por “Todos os caminhos levam a Roma”, é composto por uma figura do Coelho Banco, personagem icônico da franquia Alice no País das Maravilhas, segurando um relógio. A imagem faz alusão à expressão que descreve o sistema de estradas construídas na época do Império Romano (27 a.C a 476 d.C), onde uma complexa malha viária conectava províncias à capital. A frase, hoje adotada pela nova geração, é utilizada para indicar que diferentes abordagens levam ao mesmo resultado, mas, ao colidir com a falta de perspectiva do público infanto-juvenil com livre acesso às redes sociais, ganha uma nova interpretação fatalista: Não importa o que aconteça, no fim, sempre vai dar errado. Muito contexto para um meme só, certo?

Conviver com duas das gerações que vivenciam um mundo pós inteligência artificial, (geração alpha (2010 – 2024), e geração beta (2025 – 2039)), fez com que eu me sentisse menos culpada por ser cronicamente online (termo que descreve um estilo de vida onde se usa telas de forma excessiva).

Já faz um tempo que não nos falta vocabulário para descrever o declínio de funções cognitivas e instabilidade mental causadas pelo uso exagerado de tecnologia. Brain rot, ou apodrecimento cerebral, que foi eleita palavra do ano pelo dicionário de Oxford em 2024, também refere-se ao consumo de conteúdos de baixa qualidade. O termo, igualmente utilizado para vídeos de personagens meio objeto, meio animal feitos por inteligência artificial e apelidados de “Italian Brain rot”, ou, “Apodrecimento cerebral Italiano”, dominam às redes com personagens como “Bombardino Crocodilo”, um crocodilo voador híbrido com um avião bombardeiro, “Ballerina Cappuccina”, uma bailarina com cabeça de xícara servida de cappuccino, ou “Chimpanzini Bananini”, um chimpanzé verde, com corpo de banana.

Independente do contexto utilizado, às vezes, certos memes escapam da bolha infanto-juvenil, e é aí que as coisas passam a ser papo de gente grande.

Por mais bizarro que seja, é inevitável não imaginar o caos no âmbito político em 2026 ao esbarrar com mídias manipuladas ou deep fakes no que tange à eleição presidencial. E aqui, abro um parênteses para falar do uso de I.A como entretenimento também para jovens adultos, que passaram a produzir vídeos curtos que vão de cantores sertanejos com cara de animal, que fazem covers / sátiras de músicas famosas com letras de baixaria, como a Tocanna, personagem virtual de Gustavo Sali, 25, até montagens de Lula e Bolsonaro abraçados enquanto brindam uma breja na praia, felizes da vida…

Soa engraçado, certo? Talvez, só até sua tia 50 + começar a compartilhar esse tipo de conteúdo no “zap”.

Me arrisco a dizer que, por mais prejudicial que pareça, estar o tempo todo conectado, recebendo aquela deliciosa dose de dopamina ao rolar o feed, pode, de certa forma, nos blindar de possíveis fake news ou deep fakes nas próximas eleições. Veja bem, o que pode ser apenas um vídeo grosseiro – e claramente – feito por I.A pra você, talvez se torne a realidade de alguém que ainda não se adaptou com essas novas ferramentas.

Nessa linha tênue que vivenciamos, onde a polarização política se estendeu ao ponto de que uma desinformação pode desencadear uma tentativa de golpe de estado, há de se compreender e reforçar a necessidade da educação midiática.

Não é de hoje que o governo tenta, de acordo com a Secretaria de Comunicação Social do Paraná (SECOM PR) “promover habilidades e competências” para que cidadãos de todas as idades possam ter acesso à educação para mídias. É deste empecilho que nasce um projeto realizado pelo Governo Federal em parceria com a Unesco, o Consed e a Undime, concebido – tardiamente – em 2023 e intitulado de “Estratégia Brasileira de Educação Midiática”, que visa cidadania digital, e ganhará sua 3ª edição entre 28 a 31 de outubro de 2025. Ao se tratar do uso de tecnologias na terceira idade, no site do gov, é possível encontrar materiais com direito a cartilhas, vídeos e oficinas a fim de “minimizar riscos e ampliar oportunidades” para a navegação consciente de idosos na internet. Entretanto, nenhum conteúdo adverte explicitamente sobre I.A, e nem ensina como identificá-la.

Mas, será que isso é o suficiente?

Para além do estar imune ao absurdo das redes e não entender um meme, a educação midiática tem o papel de nos fazer questionar quem produziu, como produziu, por que produziu e a qual custo divulgou aquele conteúdo.

Por fim, nosso maior arsenal contra a desinformação em 2026 não estará relacionado ao nosso tempo de tela, mas sim, em nosso discernimento crítico, afinal, todos os caminhos levam a Roma.

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Lívia Monteiro

Estudante do 8º semestre do curso de jornalismo no Centro Universitário Braz Cubas